Uma bonita história de saudades

Saudades sim, tristeza não
Maria de Lourdes Dias
Formada em História. Atua no comércio farmaceutico em Canelinha

A casa da foto acima era a nossa, na Rua Joaquim José de Santana, 31, em Canelinha SC,
uma grande casa de madeira, onde meus pais, Francisco e Zélia, foram morar em 1958
e abriram um comércio, a Venda do seu Chiquinho, que vendia secos e molhados e ferragens.
Numa época em que os supermercados eram privilégio das grandes cidades, a venda supria as
necessidades de nosso pequeno município.

Eu e meus irmãos Edson, Ivan, Elton, Vera, Cleusa e Emerson tivemos nesta casa uma infância feliz.
Éramos rodeados de amigos. Havia um grande porão onde brincávamos até anoitecer. Aos fundos, tínhamos uma chácara com diversos tipos de frutas e árvores, e o Rio Tijucas, onde, nos fins das
tardes de verão,
tomávamos banho na companhia de nosso avô José.Nossa casa vivia cheia nos finais de semana.
Eram amigos do colégio, do futebol... Na nossa juventude, depois dos bailes e festas, minha mãe
fazia questão de que eles dormissem lá em casa.
Já naquela época, meus pais se preocupavam com a segurança nas estradas. Então, era obrigatório
dormir na casa da Dona Zélia e do Seu Chiquinho e seguir viagem de manhã, após o café. Em 1985, começaram a chegar os netos – são 12 – e a nossa casa ficou ainda mais alegre.

Mas não temos só boas lembranças. Ali perdemos nossa irmã, Cleusa, a caçula, aos 28 anos;
e começou a doença de nossa mãe, aos 51 anos, o mal de Alzheimer. Hoje, depois de tantos anos,
sentimos saudade. Nossos irmãos Cleusa e Ivan, nossa mãe Zélia, nossos avós e o Matheus
(filho da Cleusa) já não estão conosco, mas tivemos a felicidade de tê-los bem perto.

Valeu a pena, e vale a pena tudo que vivemos e estamos vivendo, sobretudo a presença agradável
e amiga do Seu Chiquinho, que este ano faz 80 anos.

Em janeiro de 2013, a casa foi demolida. A madeira de canela e itaúba será aproveitada para móveis
de demolição. Desejo que estes móveis assistam a muitos momentos de alegria, paz e saúde em outros
lares, assim como os momentos felizes que tivemos em nossa velha casa.

DIÁRIO CATARINENSE